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Depressão: O Silêncio do desejo e a angústia de existir

  • Foto do escritor: Italo Weiner
    Italo Weiner
  • 19 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de dez. de 2024




A depressão é uma dos transtornos mentais mais prevalentes da nossa era, e afeta milhões de pessoas ao redor do mundo.Se você sente que pode estar vivenciando uma condição como a depressão, deve estar desconfiado que é mais do que uma simples tristeza ou desânimo, mas sim, um estado que envolve uma perda profunda de energia, de sentido e de capacidade de se conectar com o mundo, não é mesmo?

O sujeito deprimido é alguém que perdeu o acesso ao seu desejo, alguém que se encontra preso em um ciclo de vazio e angústia, onde nada parece ter sentido. A depressão nos coloca diante da experiência da falta de forma radical, mostrando como a vida pode se tornar insuportável quando o desejo, aquilo que, que nos movimenta e nos dá direção, é silenciado.

O desejo é o motor da vida psíquica. É ele que nos faz levantar da cama, buscar novas experiências, conexões com os outros e ter energia para criar. Na depressão, esse motor ”falha”. O desejo fica obscurecido, e a pessoa se encontra presa em um estado de apatia e indiferença. O mundo perde suas cores, e as coisas que antes traziam prazer e satisfação se tornam irrelevantes.

Na perspectiva lacaniana, a depressão pode ser entendida como uma resposta ao confronto com a falta, Todos nós, em algum nível enfrentamos a falta, mas na depressão essa falta se torna gigante, insuportável,um vazio que não dá pra ignorar, o que leva a pessoa a um estado de retraimento e desinvestimento na vida. Uma das características mais dolorosas da depressão é a presença de um pensamento  severo e autocrítico,  essa voz interna, que julga e condena, está sempre apontando falhas, fracassos e insuficiências. Para o sujeito deprimido, seu próprio psiquismo  se torna um carrasco incansável, minando qualquer possibilidade de alívio ou prazer, a pessoa se sente constantemente em dívida, incapaz de ser o que acredita que deveria ser. O peso dessa autocrítica pode ser paralisante, levando ao isolamento e à desesperança.

Todos os fatores citados até então trazem outras condições e agravantes, como por exemplo a solidão. Mesmo quando rodeado por pessoas, o sujeito deprimido sente-se isolado, desconectado e incompreendido. Na teoria psicanalítica, precisamos estar em relação com os outros para nos desenvolvermos e realizar trocas que são fundamentais para nosso funcionamento mental. Na depressão, essa relação é interrompida, e o sujeito se encontra preso em um diálogo interno que é marcado pela falta de esperança.

Esse isolamento não é apenas físico, mas também emocional e simbólico, o deprimido se sente fora do circuito da vida, incapaz de se conectar com o desejo dos outros e de se sentir parte de algo maior. Essa experiência de desconexão agrava a sensação de vazio e aumenta a dificuldade de sair do estado depressivo. Apesar da depressão ser composta de tantos fatores que parecem não ter solução, ainda existe muito que pode ser feito. Seguem algumas dicas que podem ajudar:


Busque ajuda profissional: A depressão é uma condição séria e muitas vezes incapacitante. Buscar a ajuda de um profissional pode ser o primeiro passo para entender o que está por trás desse estado de apatia e angústia.


Questione a voz interna: Identificar e questionar a voz que critica e julga pode ser um caminho para aliviar a pressão. O superego depressivo é implacável, mas reconhecê-lo como uma instância controlável e não como a verdade absoluta pode abrir espaço para uma saída.


Não se isole: A tendência ao isolamento é forte na depressão, mas buscar contato humano, mesmo que pareça difícil, pode ser uma forma de resgatar a conexão com o mundo. Às vezes, apenas estar na presença de outra pessoa, sem a obrigação de falar ou explicar, já é um passo importante.


Considere Psicoterapia e uso de Medicação: Em alguns casos, a depressão é tão intensa que requer intervenção Psicológica e medicamentosa para estabilizar. A medicação pode ser uma aliada no processo terapêutico, ajudando o sujeito a ganhar fôlego para enfrentar as questões mais profundas.


A depressão é um estado que revela muitas das nossas fragilidades e as dificuldades de lidar com as questões que nos constituem, e a saída para este quadro passa por uma rearticulação do desejo, uma busca por novos sentidos e novas formas de se conectar com o mundo. 

O caminho pode ser longo e difícil, mas é possível encontrar formas de resgatar a vitalidade e a capacidade de desejar. A escuta psicanalítica, ao acolher o sujeito em sua dor, oferece um espaço onde é possível dar voz ao que está silenciado, reencontrando, pouco a pouco, o desejo que foi perdido.

Capa do livro "Uma biografia da Depressão" de Christian Dunker
Capa do livro "Uma biografia da Depressão" de Christian Dunker

 
 
 

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